Segundo dados divulgados hoje (23) pelo BC, o déficit nessa conta, que registra as compras e vendas de mercadorias e serviços, chegou a US$ 7,086 bilhões em janeiro. Esse é o maior resultado negativo da série histórica do BC, iniciada em 1947. Para fevereiro, com menor número de dias úteis, a previsão é que o déficit em transações correntes fique em US$ 2 bilhões.
De acordo com Maciel, o resultado da balança comercial negativo em US$ 1,292 bilhão foi o segmento que mais contribuiu para o resultado negativo das transações correntes em janeiro. Esse é o pior resultado da balança comercial para meses de janeiro. Outro destaque é o aluguel de equipamentos, que registrou déficit de US$ 1,621 bilhão. "Está associado principalmente à ampliação da capacidade produtiva, particularmente no setor extrativista mineral, o que deve continuar neste ano", disse Maciel.
Segundo ele, houve uma mudança estrutural em relação aos déficits em transações correntes no país ao longo dos anos. De acordo com Maciel, anteriormente, o resultado negativo era marcado por fluxos de pagamentos de dívidas e esses valores eram mantidos independentemente dos ciclos econômicos do país. Atualmente, grande parte do déficit está associada às remessas de lucros e dividendos de empresas estrangeiras no país para o exterior. Nesse caso, as remessas ocorrem de acordo com o ciclo econômico, ou seja, se a economia vai bem e as empresas têm maior lucro, há mais remessas. Em situação contrária, há redução das remessas. Em janeiro, essas remessas ficaram em US$ 981 milhões e os dados preliminares deste mês, até hoje, estão em US$ 120 milhões.
Apesar do resultado negativo histórico das transações correntes em termos nominais, Maciel destacou que em relação a tudo o que o país produz – Produto Interno Bruto (PIB) – o déficit de janeiro não foi o maior da série, ao ficar em 2,46%. De acordo com ele, o resultado em relação o PIB é o indicador mais correto para ser usado nas análises. "Em outros carnavais já tivemos déficits bem maiores que isso, na ordem de 4% do PIB".
Maciel também enfatizou que a ampliação do déficit em transações correntes tem sido acompanhada pelo maior fluxo de investimento estrangeiro direto, "a melhor forma de financiar" o resultado negativo. A expectativa é que, neste ano, o país receba US$ 50 bilhões desse investimento, e que o déficit em transações correntes fique em US$ 65 bilhões. Em janeiro, o investimento estrangeiro direto chegou a US$ 5,433 bilhões, o maior resultado para o período. Em fevereiro, até hoje, esses investimentos estão em US$ 2,166 bilhões. A previsão para o mês fechado é US$ 3,2 bilhões.
Outra forma de financiar o resultado negativo esperado para o ano é o empréstimo de recursos no exterior. Em janeiro deste ano, a taxa de rolagem (razão entre desembolsos e amortizações) de empréstimos de médio e longo prazos chegou a 284%. Isso mostra que as empresas não somente rolaram os vencimentos, mas também tomaram novos recursos. "O financiamento do déficit em transações correntes se dá de uma maneira confortável. Além do IED [investimento estrangeiro direto], as taxas de rolagem, as condições para captação de empréstimos, continuam favoráveis", disse Maciel. Em fevereiro até hoje, essa taxa está em 128%.
O país também recebe investimentos em ações e títulos de renda fixa, mas esse segmento registra muitas oscilações de entradas e saídas de recursos, diferentemente do investimento direto, que permanece no país por mais tempo. Em janeiro, os investimentos em carteira (ações e títulos de renda fixa) registraram ingresso líquido de US$ 4,932 bilhões. Desse total, as ações negociadas no país registraram ingresso líquido de US$ 4,291 bilhões e os títulos negociados no Brasil ficaram em US$ 555 milhões. Os dados preliminares deste mês mostraram que os investimentos totais em ações ficaram em US$ 933 milhões e as negociadas no país, em US$ 1,721 bilhão.
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